Considerações sobre o filme Canina!
- Ana Caroline Boian
- 2 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de out.

Recentemente assisti ao filme Canina, disponível no Disney Plus, com a atriz Amy Adams.
O filme relata de uma forma muito real e ao mesmo tempo simbólica a fase da vida de uma mulher puérpera. Ela é artista plástica, mas decidiu interromper a carreira para se dedicar ao filho, que no momento está com 2 anos.
O marido acaba sendo um marido ausente, pois frequentemente viaja e passa dias fora por conta do trabalho. Acredito que o roteiro do filme tenha feito isso propositalmente, uma vez que, mesmo estando todos os dias presente, os pais em nossa sociedade normalmente acabam sendo mais ausentes nas demandas domésticas e nos cuidados dos filhos.
Amy Adams está maravilhosa e representa com muita verdade e transparência muito do que nós, mulheres-mães da nossa geração, vivemos quando escolhemos a maternidade em nossas vidas. Uma escolha que, a princípio, é do casal, mas que consequentemente acaba sobrecarregando quem carrega o bebê por 9 meses.
Uma das primeiras cenas que me marcou foi quando a colega de trabalho, que ficou em seu lugar na galeria de artes, pergunta se ela ama ficar com o filho em casa o tempo todo e como deve ser maravilhoso. A mãe, nesse momento, verbaliza toda a angústia, dizendo que adoraria estar contente, mas, em vez disso, se sente presa numa prisão que ela mesma criou. E que as normas sociais, as expectativas de gênero e a boa e velha biologia a forçam a se tornar essa pessoa que não se reconhece e que se sente irritada o tempo todo.
Mães de plantão, quem de vocês também se sentiu assim levante a mão!!!!...É claro que é um pensamento e sentimento. Ela não responde a essa pergunta dessa forma, e sim da forma tradicionalmente aceita: sim, amo ser mãe!
Eu particularmente me identifiquei muito com o filme, pois acredito que passei por todas as fases que a personagem passou e até algumas a mais.
No meu caso, o primeiro sentimento foi de não ser mais eu mesma: ainda tinha a barriga de gravidez, mas não me via linda como era quando estava grávida. Meus seios enormes jorravam leite, então vivia com as conchas protetoras. Não me sentia nada atraente e já não me reconhecia mais.
Estava muito sensível emocionalmente e hoje percebo que passei por uma depressão pós-parto, pois sentia uma tristeza e insegurança muito grandes.
As cobranças externas e principalmente internas, minhas e do meu marido, de criar outro ser humano indefeso, sobrecarregaram demais meu psicológico e meu casamento.
Sentia-me só, com a forte sensação de estar mesmo presa na prisão que eu mesma havia criado para mim.
Como a protagonista, demorei para aceitar meu papel de mãe, para assumir que aquilo era parte da minha vida. Quando encontrava as amigas, a última coisa que queria falar era sobre a rotina do filho, e quando elas ficavam nesse assunto, eu dava um jeito de desconversar e falar de coisas mais prazerosas ou simplesmente fugir dali.
Me vi muito sobrecarregada com as demandas da casa e principalmente da maternidade. Também saí do trabalho para me dedicar exclusivamente ao meu filho, mas me sentia extremamente exausta e injustiçada, pois a sobrecarga mental e física existem e são pesadas.
Também vivi situações relacionais muito parecidas e intensas como a personagem viveu em seu casamento: o sentimento de que o parceiro não tem empatia ou não compreende tudo aquilo que a mulher vive. Todos os conflitos internos. O amor incondicional ao filho e, ao mesmo tempo, a vontade de fugir para bem longe. A raiva por ser cobrada por coisas que claramente eles têm mais dificuldade de fazer, como fazer compras com o filho ou tentar servir um simples jantar quando a criança não quer, faz birra e joga longe a comida.
A sensação de liberdade quando estamos sozinhas, sem filho e sem marido, com o tempo todinho disponível para nos conectarmos novamente com nossos dons anteriores esquecidos pela maternidade.
A conexão da personagem Mãe com o arquétipo da Loba não é simples coincidência. O lobo representa a liberdade, a autenticidade e reconecta com a sabedoria selvagem e intuitiva. Segundo Clarissa Pinkola Estés, no seu livro Mulheres que Correm com os Lobos, a Loba representa a mulher que honra seus ciclos naturais, confia na própria sabedoria e não se curva a imposições externas.
E é exatamente isso que acontece no filme. Apesar de abraçar a maternidade e começar a amar ser mãe e se permitir ser como é, ela também respeita a necessidade de trazer de volta a mulher que era enquanto artista plástica. Ela sente falta de se exercitar, do silêncio, de dormir até mais tarde, de poder comer a hora que der na telha, de assistir a um filme sozinha e de fazer o que ama, atuar e focar em sua carreira.
Canina mostra que a maternidade é particular, que não existe uma “forma correta” de ser mãe, mas que cada mulher pode e deve buscar a sua maneira, a forma que mais se encaixa em suas necessidades e anseios. Com forte crítica social, mostra que as mulheres-mães necessitam de suporte e apoio, e não de cobranças, nesse momento importante da vida delas e dos filhos, principalmente para integrarem tanto o novo papel em suas vidas como também para voltarem a assumir o papel que tinham antes de serem mães.
E vocês, assistiram ao filme? Concordam com essa análise? Desse filme podemos nos aprofundar em vários temas. Escreva aqui qual tema você gostaria de ver por aqui!








Comentários